Quinta-feira, 30 de Dezembro de 2004
O Aquiles enviou-me a prosa e imagem que se seguem.
Nada mais apropriado para reflectirmos neste final de ano.
A todos vós, meus queridos mortais, um FELIZ ANO NOVO!
Recentemente vi um cartoon muito interessante onde dois homens observavam o céu e dizia um deles: "120.000 mortos previsivelmente na sequência do maremoto da Ásia". Passado um quadradinho o outro homem reponde, sempre a olhar para o céu: "Eh! Parece que Deus se esqueceu que ía em contra-mão...".
Não pude deixar de me recordar do 11 de Setembro, do 11 de Março, do sismo do Irão e de todas essas vezes me apeteceu maldizer todos os Deuses, todos os Zeuses, todas as divindades que criámos para justificar o injustificável, para explicar o inexplicável. Mas quem somos nós para atribuir à ira divina as catástrofes deste mundo quando nos recusamos a sequer admitir que possa ter sido a sua intervenção que originou as auroras e os ocasos dos nossos dias, a lua e o sol, a areia e o mar...
Se calhar deveríamos pensar melhor antes de, quais vampíros sanguinários, espremermos até ao tutano as entranhas da terra retirando dele o sangue negro que lhe dá vida, resultante de milhões de anos de evolução. Sim, o petróleo motor da nossa sociedade, é retirado em quantidades cada vez mais insustentáveis. As plataformas e refinarias trabalham acima das suas possibilidades para satisfazer a sede consumista das nossas sociedades. Os EUA consome 65% do petróleo produzido a nível mundial. Milhões de barris diários são sacados às entranhas da terra, essa mesma terra que, de tempos a tempos, lança um grito lancinante, se rebela...e nós em vez de considerarmos isso um aviso, refugiamo-nos nas teorias da conspiração divina.
Nota final:
"UM ESTUDO RECENTE NOS ESTADOS UNIDOS DEFENDE QUE A EXPLORAÇÃO DE PETRÓLEO ATRAVÉS DAS PLATAFORMAS PETROLÍFERAS PODERÁ CAUSAR UMA DEGRADAÇÃO NO EQUILÍBRIO DE PRESSÕES DA CROSTA SUB-AQUÁTICA, DANDO ORIGEM À QUEDA E SUB-DUCÇÃO DAS PLACAS INTERCONTINENTAIS."
Para reflectir.
Assinado: Aquiles
Quarta-feira, 22 de Dezembro de 2004
Eu, Zeus, Deus dos Deuses, Senhor e Rei do Olimpo, ORDENO aos quatro elementos, água, terra, ar e fogo que tragam Paz e Amor ao coração dos mortais, pois esse é o meu desejo!
FELIZ NATAL meus AMIGOS
pax vobis (A paz esteja convosco)
Boas Festas
Terça-feira, 21 de Dezembro de 2004
Todos os mortais são donos de um.
Para tudo na vida existe um ou vários.
Eles (os tais) são os responsáveis pela desgraça e felicidade de outros ou dos próprios.
O móbil das acções, dos desejos das virtudes.
São eles, os motivos.
trahit sua quemque voluptas (Cada qual tem o seu prazer que o arrasta)
Fiquem bem,
Sexta-feira, 17 de Dezembro de 2004
Não há nada mais bonito que o jogo de sedução entre dois mortais enamorados. Aquele apertozinho no estômago, aquelas atitudes disparatadas. A ansiedade provocada pela ausência de um ou outro.
Normalmente todos estes estados esvaneciam-se ao fim de pouco tempo. Os mortais são seres instáveis por natureza. Muito raramente, esse sentimento enamorado se prolonga ao longo da vida. Embora aconteça. Em casos especiais. Talvez quando se verifica essa historia das almas gémeas.
Mas o importante é o aperto. São os momentos vividos, os segundos partilhados, a ânsia experimentada.
contraria contrariis curantur (Os contrários curam)
Fiquem bem, promovam o espirito natalício
Terça-feira, 14 de Dezembro de 2004
Os seus passos pesados ecoavam no corredor. Tinham sido anos de labuta, de tristezas, alegrias, conquistas e desilusões. Toda esta amálgama de sentimentos, emoções conferiam-lhe um peso especial, uma pressão sobre os ombros. Aumentavam-lhe o centro de gravidade. Sim, as recordações também têm um peso.
O seu caminho era longo, o corredor parecia não ter fim, embora ao fundo se avistasse uma cadeira, mesmo ao lado da porta. Aquela que sentia ter de alcançar. A porta.
E para quê? Os sacrifícios, as privações a luta constante. Porquê? Que poderia ele agora deixar? Quem o recordaria? Os filhos? A família? Os amigos? Uma pessoa rapidamente é esquecida. É assim com todos. Que triste fado o seu!
Finalmente poderia descansar um pouco. A cadeira estava ali à sua frente. O próximo passo seria a porta. Abandonar aquele corredor apertado, escuro, infindável parecia-lhe uma boa opção, mas por agora as suas pernas necessitavam de descanso.
Mais uma vez toda a sua vida era revista, assolava-lhe o cérebro em flashes repentinos. Lembrava-se quando era pequeno e costumava ir brincar para o parque, com o pai. Aquele ser que tanto adorava. As vezes que lhe podia ter dito que o amava, que o adorava, que era a pessoa mais importante na sua vida. Ao lado de sua mãe.
A mulher os filhos, os caminhos que poderia ter seguido e não o fez, por falta de coragem, comodismo.
E os momentos felizes? Sim, também os teve. Mas esses pareciam ter pouca importância.
Estava na hora de passar a porta. Não sabia o que iria encontrar, mas por certo seria melhor do que aquele corredor, frio, escuro, apertado.
Amargura no estômago era o que sentia. Mas tinha que ser, ela (a porta) estava ali, algo lhe dizia que era agora. Era este o momento.
Por certo abandonaria todas as recordações, por certo o que tinha sido durante a sua vida iria se desvanecer com o passar do tempo. No final seria apenas uma memória para alguns, poucos, muito poucos.
Não! Não pode ser! Não poderia abandonar tudo e todos neste sonho, pesadelo ou lá o que seja! Pela porta Não!!
Agarra-se à vida, e corre! Corre que nem um doido pelo corredor fora. Já nada lhe pesa! Sente-se leve, fresco, com energia para voltar a enfrentar tudo e todos.
Olha uma ultima vez para aquele corredor que cada vez mais fica para trás. Seria um calvário? Uma ultima caminhada? Quero lá saber! De volta à vida, acordou.
debemur morti nos nostraque (Estamos destinados à morte, nós e nossos bens)
Fiquem bem,
Sexta-feira, 10 de Dezembro de 2004
Todos nós na vida já engolimos em seco. Por este ou por aquele motivo, o movimento característico do maxilar em conjunto com a garganta já foi executado, sem a sua intenção básica e primária.
E engolimos (em seco) porque algo nos correu mal, porque nada podemos fazer perante uma determinada situação, ou porque queremos algo e não temos coragem para o fazer ou pedir, ou por um milhão de motivos conhecidos ou desconhecidos.
O importante da prosa é mesmo o sentimento que se gera no acto (de engolir). Deglutir em seco é fodido, a maior parte das vezes. Custa como o caraças, dá azia porque nada de sólido ou liquido entra no sistema digestivo. Ninguém gosta de ser enganado, nem mesmo o nosso estômago.
bis de eadem re non sit actio (Não haja dupla acção sobre a mesma coisa)
Fiquem bem, um bom fim de semana, divirtam-se nos centros comerciais apinhados de gente na azafama das compras para o velho simpático das barbas.
Quinta-feira, 2 de Dezembro de 2004
De entre todas as espécies de mortais que existem; os pragmáticos, pessimistas, optimistas, destrutivos, construtivos etc e tal. Impressiona-me (pela positiva) os sonhadores.
Os sonhadores crêem sempre que algo de belo lhes vais acontecer na vida. Um amor, um acontecimento fantástico, algo de especial lhes está reservado. Está escrito nas estrelas. E acreditam, acreditam, cometem 100 vezes os mesmos erros, mas continuam a acreditar. Estás-lhes (aos sonhadores) no sangue, é genético. A crença, o sentir algo de diferente que por algum motivo celestial ou coisa que o valha lhes vai marcar a diferença.
Ás vezes, não passam disso mesmo. Sonhos. Outras, talvez não.
Celebremos então, os nossos sonhos.
coelo tonantem credidimus jovem (Acreditamos em Júpiter quando ele troveja no céu)
Fiquem bem,